quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Coppergate #2808 inspired seax

Ok, this is my first post in english here and starting by now, this will be the language of choice here, so I can reach my costumers around the globe and they can know a little more about me, other than simply my blades, but also my inspirations and so.

To begin with, this post is about a "replica" (or sort of, actually) of a blade from Coppergate, York, that almost took all my sanity for a while. I could finish it in time for the Salão Paulista de Cutelaria, one of the most important blade shows in Brazil.

Well, it all started some time ago, when I saw an image at the York Archaeological Trust website, while looking for some new references. I'm also a viking age reenactor, so this kind of stuff really calls for my attention. And after a while I just realized that that very blade was on the book Anglo-Scandinavian ironwork from Coppergate - York, written by Patrick Ottaway.

Then I also found some scannings of the book on that blade, I just edited a part of it, but it is almost the very one running on the web:

After that, reading to the book, I decided to use this one as inspiration after all. But I have to show the whole thing before the knife, of course.

To begin with, was the bloomery furnace. I made it for a workshop with some friends, hoping to get enough material for some knives, but as it was the first time I was actually refining the bloom, I lost almost it all, so if you find the numbers on the video weird, you are right. But next time I'll try to make it more fruitfull.


After that, the refining part finally began. With a help from the fellow bladesmith Andrey Navarre and his hydraulic press I could quicken it a lot, although next time I'll try to refine it a bit just before the press, so I'll not have so much slag incursions trapped inside the bars.




After that I took it to my shop once again and tried to clean all the mess and resolve some huge welding flaws. And then, I started to draw a vaguely knife-looking form, and on the end of some days I finally was able to get a very thick bar of the desired shape. At this point I had to make a deviation from the original one, as it's back was originally made with a different, softer steel and I only was able to make a very high carbon content bloom. So I made it all from a single steel bar.

 

I had to ground it a lot to get to the final shape, as I was really afraid of loosing all the material and all the efforts I had till then. And after that I just ground the fullers, a bit larger than the original too. It resulted on a blade some millimeters smaller than the desired size, even so.

The tang was also about 2cm smaller than what I wanted and I was without any bloomery material left, so I forge welded a small piece of mild steel on it.

Then I just had to harden it. I normalized the blade about 6-7 times before quenching it in cold water. As I wanted the backbone to be soft, so I could make the inlays, I used a kind of clay to make something like a hamon. It worked, but didn't result in any visible pattern.


I polished the blade and made the inlay. All the information I found on it said it was "cooper" or "cooper alloy", so I decided to use nickel silver, which is, in fact, a silver free cooper alloy. I also knew it was found only on one side of the blade, but judging by the cross sectional scheme, I assumed the other side also had it, but it was lost over the centuries.

After all the hard work, I had to decide what sort of handle it would have. I considered a richly decorated one, but I was fascinated by an image from the Old English Hexateuch, with very simple handles on some saxes, then I went on this direction.


I was thinking about using maple or ash wood, then ash was the choice and after riveting the tang on the "pommel" part, I burnt it on it's surface with a torch and used a fine sandpaper, so it would have this dark looking present on the manuscript. Then I applied some tung's oil on it.

The final part was to make the sheath. I was looking for references from York and I found a lot of them. But I just had the time to cut the leather, after that I went on a travel for England to attend to a course with Petr Florianek. I got this chance to visit York after the classes and was able to see the original sheaths I was studying at Jorvik Viking Centre and once I returned to Brazil, This knife became my top priority. You can now see it's final look here:












The sheath is made of bovine leather and has iron rivets and brass washers. The ring for suspension is also brass and the cord on it is braided horse hide.

It has a lot of welding flaws due to the nature of the steel and my inexperience on work with bloomery material, but I loved how it looks like after all. And, of course, looks much better than the ore itself.

Overall Lenght: 3,5cm
Blade: 16,5cm
Blade thickness: 0,9cm
Blade width (maximum): 3,7cm
Hope you all like this knife and all it's meaning.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Arod, a Valente - Seax de Rohan

Olá a todos!


Faz quase um mês que terminei essa faca e ainda olho pra ela com um orgulho de quem cumpriu um dever consigo mesmo. E ainda assim não postei nada aqui falando mais sobre essa faca que tem tanto o que ser explicado.

A levei na IV Mostra Internacional de Cutelaria, na cidade de São Paulo no final do último mês de abril e ela me rendeu a premiação de melhor faca de fantasia, ainda que tenha havido um empate com outros dois concorrentes. Mas o simples fato de ter concorrido com cuteleiros bem mais experientes e ter sido equiparado a eles já foi um bom prêmio, ainda mais quando os juízes da competição foram Jerry Fisk, James Cook e Zaza Revishvili, alguns dos mais renomados cuteleiros da contemporaneidade.


Tanto lá quanto em minha página do Facebook ou mesmo em conversas com amigos, me foi perguntado porque tomei a decisão de fazê-la como a fiz e não de qualquer outro modo, já que meu interesse era o de fazer uma lâmina baseada no universo de Tolkien.

Os Rohirim são, sem sombra de dúvidas, a cultura da Terra Média da qual eu mais gosto e isso não está de todo relacionado ao universo criado por J. R. R. Tolkien, mas também pelo fato de ser um povo muito enraizado em uma cultura real de nosso mundo. É claro que elfos, orcs e anões são inspirados em contos da Idade Média da Terra, ou que outras raças dos homens também tenham um forte apelo às organizações políticas e sociais do nosso próprio passado, mas em Rohan ocorre uma transposição mais direta, quase que se os povos germânicos que migravam por toda Europa depois do declínio de Roma tivessem, de algum modo, alcançado um mundo distante, separado do nosso e lá se estabelecido. Primeiro como os Eohted, depois como os Eorlingas. E de todos esses povos germânicos, os anglo-saxões são os mais definitivos para a idealização de uma identidade rohirim.


Tolkien, sem a menor cerimônia, usou muito da literatura saxã ao criar os homens de Rohan. A descrição do salão Meduseld é a mesma que a do Heorot de Beowulf e o início do poema recitado por Theoden é exatamente o mesmo que uma passagem do poema Eardstapa, do Codex Exoniensis, compilado por volta do século X, na Inglaterra. Isso sem contar a estrutura de poder, cultura, história, o idioma (e consequentemente os nomes próprios) usado pelo mestre para simular a língua de Rohan, que é o Inglês Antigo, falando pelos anglo-saxões. Sendo assim, eu achei que a melhor coisa a ser feita para criar uma faca rohirim seria partir de uma faca anglo-saxã. E o seax "dorso quebrado" era, de longe, a melhor opção para transmitir essa ideia.

Imaginei um seax feito para um homem com um status social alto, embora que não fosse necessariamente da linhagem de Eorl, então deveria ter uma aparência chamativa, mesmo que não fosse enfeitada com materiais mais nobres como ouro e prata. Uma lâmina feita tanto para uso cotidiano e que seria uma arma bastante útil na guerra, daí o tamanho de quase 40cm no total. E que além de arma fosse uma insígnia de poder que inspirasse seguidores e amedrontasse inimigos apenas ao ser olhada, por isso padrões e decorações que fossem indicativas de sua origem. Essas características são encontradas em lâminas feitas durante todo o medievo de nossa Terra e com certeza seriam observadas na Terra Média.


Me limitei então a técnicas conhecidas pelos anglo-saxões. O damasco da lâmina, embora não seja baseado em nenhuma seax histórica, é uma junção de padrões encontrados em lâminas germânicas do século VI ao XI (e outras anteriores e posteriores, embora não tenham sido a maior fonte de inspiração e pesquisa), a quantidade de camadas é bastante baixa, assim como eram nessas épocas, para que o padrão fosse bem discernido. O repoussé usado na bainha e no cabo também era usado pelos saxões, mas também por outros povos germânicos contemporâneos, no início do período anglo-saxão Inglês (sécs. VI-VIII).

Porém, eu não podia simplesmente aparecer com um seax cheio de inspiração histórica e dizer que era inspirado num povo fictício. Eu tinha que dar uma cara própria pra ela e para tanto tentei tomar algumas medidas que tirassem o caráter de peça conjectural saxônica para ficar clara a referência que tive.

Em primeiro lugar, o uso das cores na bainha. O verde do couro tingido e o latão, apesar de obviamente não serem exclusividade da fantasia literária, já direcionaria um pouco a leitura da peça. Outro ponto foi o excesso de curvas no cabo. Quis que o cabo lembrasse as formas do animal mais importante para os descendentes dos Eohted (literalmente "Povo do Cavalo").

Por fim, a característica que mais define uma produção artística é o próprio estilo artístico usado, mais do que técnica, forma ou material. Um estilo artístico é algo difícil de se confundir.

A arte dos primeiros povos germânicos, sem exceção, gira em torno de decorações com motivos animais. O estilo usado varia dramaticamente com região e período, mas o tema é constante. Achei que Rohan teria seu próprio estilo animal. Um estilo que, diferente de sua contraparte existente nos livros de história, fosse mais direto, mais naturalista e menos interpretativo. As razões são simples: é citado em O Senhor dos Anéis que os homens de Rohan são honestos, valentes, não conhecem a mentira e coisas do gênero. Uma arte com códigos, charadas e mensagens subliminares não seria algo muito bem visto por essa gente humilde (quase "xucra", como um cavalo selvagem). Portanto o uso de temas mais simples, com histórias mais conhecidas, diferente da arte medieval da Terra, que possuía códigos escondidos em cada elemento.


A base para os cavalos eu retirei de um boardgame de O Senhor dos Anéis e fiz algumas alterações que eu achei mais conveniente, já o sol foi algo mais simples, tentando manter a mesma linha com contrapontos entre delicadezas e áreas mais ríspidas (como um círculo grande, massivo e "chamas" pequenas, delgadas) E eu realmente pretendo desenvolver esse estilo animal para próximas peças que eu resolva fazer com o mesmo tema, e tenho diversas no papel.

Por fim, como toda boa arma, ela merecia um nome. Achei na palavra Arod uma descrição perfeita para a faca. A dica veio de um amigo que possui um vasto vocabulário de Inglês Antigo na cabeça e embora ele talvez não tenha percebido que a palavra Arod possui dois significados distintos, ambos se encaixam no resultado final.

Arod significa tanto "Bravo/Valente", como "Veloz/Ágil". E essa seax possui ambas as características.

Até o próximo post.

Forth Eorlingas!

*Mais fotos e toda a descrição técnica da faca aqui.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Cutelarias, no plural mesmo.

"Mas como assim no plural? Se é um ofício, ele é abrangente o suficiente pra abarcar todos aqueles que trabalham com ele, não?" Não. E esse é um assunto por vezes polêmico, pois tudo vai de opção, preferência, mercado e tudo mais que se possa imaginar.

A cutelaria, obviamente, é uma forma de artesania cujo produto final seja uma lâmina, seja ela uma espada, uma faca, um machado, uma foice... Enfim, qualquer objeto cujo fim principal seja cortar. Então não posso falar de cutelaria se estou fazendo ferraduras para cavalos, mas poderia, em tese, imprimir uma faca de plástico numa impressora 3D e chamar esse ofício de cutelaria. E é nesse ponto que a palavra no plural começa a fazer mais sentido.

Existem infinitas "formas de cutelaria", embora obviamente todas partam do mesmo princípio e compartilhem muita coisa em comum. Acreditar que é tudo a mesma coisa é complicado, seria como dizer que escultura é tudo igual, por se tratar de um objeto tridimensional produzido pela mão humana, ainda que existam métodos, finalidades, estilos e materiais diversos.

Pense num hippie esculpindo massa epoxi numa praça, com a forma de duendes. Agora pense em Michelangelo. Ambos são escultores. E ninguém faria um incensário com uma obra de Michelangelo, portanto não estou me referindo à qualidade desses trabalhos.

Com facas não seria diferente. Existem facas para os mais diversos fins. E não me refiro ao fato de ser uma hunter, skinner, fighter, edc ou o que quer que seja, mas sim no por que elas foram feitas. "Como assim?", você pode perguntar. Fácil: existem facas que não serão usadas uma única vez depois que saírem da oficina de seu criador. E essa provavelmente vai ter um valor financeiro muitas vezes maior que aquela que aguenta anos na lida.

Pode parecer estranho, mas é isso mesmo. E aí, de vez, que faz sentido a cutelaria ali no título ficar no plural.

No ramo da produção de qualquer objeto artesanal existe a questão do requinte, do mercado, do público alvo. Uma faca de colecionismo precisa ser uma faca de colecionismo, não uma simples faca "de uso", por assim dizer. E uma faca de uso, apesar de poder ser uma faca de colecionismo, precisa ser uma faca de uso. Isso sem falar facas de outros fins.

Existem peças que precisam ficar em mostruários de vidro, trancadas a sete chaves, por serem quase obras de arte, no sentido técnico da coisa. Exitem outras que ficarão na coleção particular de algum excêntrico, sendo usadas apenas naqueles eventos socialite para cortar o churrasco gourmet com requintes de etiqueta. Existem profissionais, como churrasqueiros ou sushi-men, que adoram ter um produto diferenciado na hora de trabalhar, pois assim se sentem mais íntimos da profissão e ainda podem mostrá-lo como uma espécie de comprovante de identidade. O mesmo vale para quem está nessas atividades por hobby. Até mesmo entre o pessoal do bushcraft tem aqueles que ostentam lâminas em damasco, mesmo sabendo que a manutenção constante da lâmina pode ser uma atividade à parte. Uma espada, por exemplo, dificilmente será usada pra cortar alguém, embora muitos artistas marciais tenham o hábito de colecionar espadas, tanto para exibição quanto para demonstração de corte. E existem lâminas que serão usadas à exaustão diariamente, unicamente como ferramentas.

O mais incrível de todas essas possibilidades (e outras mais) e que cada uma delas abre um leque ainda maior. Têm por aí ferramentas caras e as baratas, de qualidade meramente satisfatória pra um ou dois usos - eu mesmo lembro-me de um machado de 5 reais que comprei faz uns dez anos e que cortou umas lenhas e depois caiu no chão e quebrou bem no olhal. Têm espadas para testes de corte que são industriais, feitas aos montes e algumas que além de serem feitas à mão, combinam características mais artísticas. Têm churrasqueiros de todos os gostos e bolsos. E até pessoas que criam uma relação afetiva com o objeto, assim como o cara que se recusa a vender o carro porque foi nele onde ele aprendeu a dirigir ou que lembra das memórias da casa onde passou a infância, etc, etc, etc... Agora pensa que aquela faquinha é "a cara de tal pessoa".

O que quero dizer é que o cuteleiro precisa ter tudo isso em mente na hora de acender a forja (seja pra forjar ou só para o tratamento térmico, no caso de desbaste). Isso porque o valor final da peça vai depender dessas escolhas. E o valor final vai influenciar no tipo de comprador. E o tipo de comprador vai definir que fim vai ter a faca.

Pra exemplificar ainda mais, imagine uma lâmina de aço valiriano com cabo em chifre de unicórnio e bainha trabalhada em pele de dragão (desculpem pela piada). Eu não vou fazer uma faca com os materiais mais caros (o que não significa que sejam bons) pra trabalhar de forma descuidada e poder cobrar uma merreca. Só um pedaço de marfim de narval, por exemplo, já custa mais da metade do que eu ganho num mês. E não adianta eu fazer a faquinha perfeita e simpática, com materiais comuns, igual a que todo mundo faz e querer cobrar uma fortuna.

Além disso, pense que existem materiais de qualidade ruim, mas que possuem valor altíssimo. Ouro não serve pra lâminas, mas se você dizer uma lâmina de ouro, você provavelmente vai conseguir vendê-la pra algum milionário, se você tiver o network necessário pra isso. Ferro forjado (o wrought iron, no caso) é de péssima qualidade se for comparar com aços modernos, mas mesmo assim é indispensável praqueles interessados em reconstruir com 100% de acuidade algum trabalho de época, por ser o material usado antigamente. E isso vai fazer o trabalho ganhar mais respeito e mais valor, mesmo que o material seja um pedaço de trilho de trem de 200 anos que estava no quintal da sua avó.

Mas o que é importante pensar, sempre, é na qualidade do produto, além do material. Uma peça de cutelaria tem que ser perfeita para os fins a que se preza, mesmo que esse fim seja o de ficar na bainha do gaúcho durante um desfile do CTG ou dentro dos vidros de um museu. Nem toda lâmina precisa derrubar árvores e cortar carnes, embora seja bom que elas o façam. Nem toda lâmina precisa ser agradável aos olhos, resistente a umidade, inoxidável, barata, cara, feita com materiais reciclados, feita com materiais nobres ou o que quer que seja. Mas naquilo pra que ela foi feita ela deve ser excelente. E nem todo cuteleiro precisa estar disposto a fazer lâminas pra todos esses fins.

Mesmo assim, é muito ditador dizer "não pode" ou "deve". Na verdade você pode criar todo um discurso (e não digo inventar lorota, mas sim elaborar um motivo real) pra justificar um preço ou uma identidade visual e se pagam mesmo depois de comparar com outros produtos de qualidade semelhante, parabéns, você conseguiu.

O que eu digo com isso tudo é bem simples: tente criar uma cutelaria própria ou se alinhe de acordo com cuteleiros que te agradam, embora não tente ser igual a eles. Ter uma identidade própria é o que vai fazer seu trabalho ser reconhecido, não sua assinatura.

Afinal, se o seu trabalho é tão bom que chega a ser igual ao de alguém que você admira, por que vão escolher você e não esse outro alguém?